O
Equinócio de Babalon
"Quando
o teu pó estiver na terra que Ela pisa,
então talvez tu possas levar a impressão de Seu pé.
E tu pensas em contemplar a Sua face!"
(A Visão e a Voz, Aleister Crowley).
então talvez tu possas levar a impressão de Seu pé.
E tu pensas em contemplar a Sua face!"
(A Visão e a Voz, Aleister Crowley).
Por
Frater Zarazaz
...
QELHMA ...
O
Equinócio de Outono marca o início do afastamento do
Sol rumo ao Inverno. As tradições mágicas do
Ocidente associam este momento com o Elemento Água e o
Pôr-do-Sol. As civilizações solares antigas
acreditavam que o Sol morria no entardecer e era ressuscitado no dia
seguinte. Durante a Noite, ele cruzava o Reino dos Mortos, levado,
segundo os egípcios, em uma barca.
Assim
como a Renascença nos trouxe a Revolução
Heliocêntrica, quando o homem descobriu que é a Terra
que gira ao redor do Sol, ao contrário do que se supunha até
então, o Sistema Thelêmico também propõe
uma Revolução Antropocêntrica no processo de
Iniciação: o Homem, ao invés de ser um ente
imperfeito em jornada através de um processo de purificação,
a mercê de um Deus externo, é ele próprio um Ser
Divino, submetendo-se de modo voluntário a um processo de
ocultação no mundo, onde busca uma plenitude de
auto-conhecimento e realização.
O
Homem é intrinsecamente divino, Deus homo est, sendo uma
estrela de individualidade e curso próprio, que nunca morre. A
morte é uma ilusão fisiológica, assim como o
Pôr-do-Sol é uma ilusão astronômica. Por
isto, no Rito de Passagem realizado pelo nosso Oásis, no dia
21 de Março passado, no Templo Secreto, sob a Abóbada
de Nuit, o ápice dramático foi o momento em que a
Sacerdotisa e o Hiereus proclamaram ao Hierofante, deitado na posição
do Enforcado, que a Morte e o Sacrifício, considerados como
sendo as Chaves de Iniciação do Aeon passado, são
apenas ilusões:
"Não
penses, ó rei, sobre aquela mentira: Que Tu Deves Morrer : em
verdade tu não deverás morrer, mas viverás."
"Eu
dou inimagináveis alegrias sobre a terra; certeza, não
fé, enquanto em vida, sobre morte; paz indescritível,
repouso, êxtase, sem exigir algo em sacrifício."
(extratos do Livro da Lei)
Assim,
o Hierofante se reergueu, consciente de que a busca da plenitude
implica na realização e manifestação de
todas as facetas do seu ser, ao contrário do ideal falso da
purificação, onde antes se buscava a supressão
de características humanas consideradas inapropriadas pela
cultura dominante; e conclamou os Iniciados de Thelema a lutarem
contra todas as forças repressoras da Humanidade:
"Eu
sou o guerreiro Senhor dos Quarenta: os Oitenta se acovardam diante
de mim, & perdem a base. Eu vos trarei à vitória &
alegria: eu estarei de braços dados a vós na batalha &
vós vos deleitareis em matar. Sucesso é a vossa prova;
coragem a vossa armadura; avançai, avançai em minha
força; & vós não retrocedereis por nada!"
O
Reino do Oeste, onde o Sol parece se por, e onde se encontrava o
Altar, é associado ao Elemento Água. No Sistema
Thelêmico, é o Quadrante onde se invoca Babalon.
Babalon
é a divindade menos compreendida no Sistema Thelêmico.
Não existe um capítulo para ela no Livro da Lei, e o
seu nome não é citado pelo mesmo. Mas o Livro fala da
Sacerdotisa como sendo a Mulher Escarlate, em quem todo o poder é
dado. A referência é bíblica, pois é no
Apocalipse, atribuído de modo errôneo ao apóstolo
João, que encontramos a "grande prostituta, assentada
sobre muitas águas", "assentada sobre uma besta de
cor escarlate", "a mulher vestida de púrpura e
escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas"
que "tinha na sua mão um cálice cheio de
abominações e da imundice da sua prostituição",
e estava "embriagada do sangue dos santos". E o seu nome
era "Mistério, a grande Babilônia".
A
menção à Mulher Escarlate levou Crowley ao nome
de Babilônia, que ele "corrigiu" para Babalon. Para o
verdadeiro e desconhecido autor do Apocalipse, ela era na verdade uma
cidade, a cidade de Roma, que oprimia os cristãos e cuja queda
era predita juntamente com a do seu regente, aquele cujo número
seria 666.
A
derivação bíblica é bem clara, por
exemplo, no Capítulo 49 do Livro das Mentiras, onde Crowley
descreveu as antes só citadas Sete Cabeças da Besta
sobre a qual sentava-se a prostituta:
"Sete
são as cabeças d'A BESTA sobre a qual Ela monta.
A
cabeça de um Anjo: a cabeça de um Santo: a cabeça
de um Poeta: a cabeça de uma Mulher Adúltera: a cabeça
de um Homem de Valor: a cabeça de um Sátiro: e a cabeça
de um Leão-Serpente."
A
partir da citação no Livro da Lei, entretanto, Babalon
passou a representar uma energia mágicka de natureza sexual. O
Mistério dessa energia seria tão profundo que, no
Capítulo 11 do seu livro Magia em Teoria e Prática,
intitulado De Nossa Senhora Babalon e da Besta que Monta, Crowley
apenas escreveu que:
"O
conteúdo desta seção, que concerne a NOSSA
SENHORA, é demasiado importante e sagrado para se imprimir
neste tratado. Ele só é comunicado pelo Mestre Therion
aos alunos escolhidos em seções privadas."
A
nota da edição de Symonds e Kenneth Grant diz que
"Crowley aqui está insinuando a natureza sexual deste
rito. Quando um membro da O.T.O. alcançava o VI Grau e Crowley
o considerava um candidato adequado para os Mistérios mais
Sublimes, ele o convidava a unir-se ao Santuário Soberano da
Gnose, onde se revelavam estes mistérios de Magia Sexual".
Assim,
fica clara a natureza do poder dado através da Mulher
Escarlate. A passagem do Livro da Lei alude aos princípios de
duas das mais importantes fontes do pensamento thelêmico: o
Tantra e a Cabala.
No
Tantra, a Mulher é considerada o veículo pelo qual a
energia é trazida ao Homem, durante o ato sexual. Algumas
linhas consideravam inclusive a mulher como um ser inferior, que
deveria submeter toda a sua energia ao parceiro durante a cerimônia,
e cuja única recompensa seria uma futura encarnação
como um ser masculino.
Em
seu livro The Magick of Thelema, o nosso Frater Lon Milo Duquette
define Babalon como Shakti, "a passiva, negativa corrente da
natureza. Ela é magnética e atrai para Si, a
potencialidade da energia, esta ela absorve e armazena (no Santo
Graal, a Taça de Babalon)." Babalon também guarda
profundas semelhanças com Kali, a destruidora. Kali é
uma deusa de morte, cujos principais cultuadores, os tugues, adoravam
com o assassinato. Ela também é amante de Shiva, o qual
é, muitas vezes, representado como um cadáver sobre o
qual copula a Deusa, e o seu culto envolvia os mais profundos
mistérios tântricos.
Na
Cabala, Malkuth, a Shekinah, é o elemento feminino da
Divindade, que recebia todos os poderes das demais Sephiroth, para
transmiti-los ou dá-los ao mundo. É sumamente
importante saber que o simbolismo cabalístico da Shekinah,
principalmente delineado no Zohar, resgatou várias facetas
perdidas das antigas divindades femininas, que podem ser agrupadas
nos aspectos da castidade e promiscuidade, maternidade e
sanguinolência. Assim eram as antigas deusas do Oriente Médio,
deusas que regiam tanto o amor quanto a guerra. A mais antiga delas
era Inanna, a grande deusa suméria, patrona de Uruk (cidade
chamada na Bíblia de Erech). Ela era considerada uma virgem (a
pura Inanna), mas, paradoxalmente, era também a deusa
responsável pelo amor sexual, pela procriação e
pela fertilidade. Ela se entregou livremente ao rei Dumuzi (Tammuz),
o primeiro rei mitológico da Suméria, e foi amante de
todos os demais reis. Mas ela era também "a senhora da
batalha e do conflito" que "tinha grande fúria em
seu irado coração". Estas mesmas características
estavam presentes nas divindades femininas de outros povos, como a
Ishtar da Akkadia, a Anath dos cananeus e a Anahita dos persas. Estas
facetas da Deusa que moldaram o pensamento religioso do Oriente
próximo durante milênios foram suprimidas pelo
monoteísmo judaico-cristão com o seu deus
descaradamente machista. Entretanto, elas ressurgem espantosamente na
Shekinah dos cabalistas.
A
Shekinah é a noiva e amante de Tiferet, numa relação
que pode ser considerada incestuosa, pois ambos são o Filho e
a Filha do Tetragammaton. O incesto entre deuses irmãos também
sempre foi uma característica comum das antigas divindades.
Mas ela também é amante de vários heróis
bíblicos, e, em determinadas circunstâncias, de Satã
e das Qliphot. Para a mentalidade do Velho Aeon, estes momentos eram
desvios da norma divina. Para nós, bravos e livres thelemitas,
representam aspectos da realidade e complexidade psíquica do
homem tão válidos e necessários quanto os
demais. Uma deusa age como quer, e o velho deus El diz, em um poema
mítico ugarítico bastante thelêmico, que "não
existe restrição entre deusas".
Uma
deusa age como quer, e o velho deus El diz, em um poema mítico
ugarítico bastante thelêmico, que "não
existe restrição entre deusas".
Também
a Shekinah, misteriosamente virgem e esposa do Rei ao mesmo tempo em
que se prostitui com Satã e seus demônios, é mãe
protetora dos homens e a comandante das hostes guerreiras e punitivas
de Deus, que a colocou nessa posição após o
Exílio dos judeus. Para nós, o importante é que
Babalon possui também todas essas características.
Mas
a Shekinah é Malkuth e o Sistema Thelêmico identificou
Babalon com a sefirah de Binah. Devemos notar, entretanto, que a
Cabala estabelece entre essas duas um identidade comum. Binah é
o primeiro He do Tetragrammatom, e Malkuth o segundo. Assim, a
Shekinah seria uma segunda manifestação de um mesmo
princípio, que permitiria à Criação
comungar com algo que está normalmente além do seu
alcance. A Sacerdotisa, como Mulher Escarlate, cumpre este papel no
ato sexual, permitindo ao seu parceiro experimentar algo do Mistério
de Babalon.
"E
na sua testa estava escrito o seu nome: Mistério, a grande
Babilônia". Binah é a primeira sefirah depois do
Abismo, a primeira manifestação do Pilar Esquerdo da
Árvore da Vida. A dificuldade principal em defini-la deriva
disto. Ela é o próprio Mistério, e só se
revela aqueles que alcançam a sua morada. Crowley a descobriu
no penúltimo Aethyr enochiano, ARN, onde ela lhe revelou que:
"Todo
homem que me viu jamais me esqueceu, e eu apareço muitas vezes
nas brasas do fogo, e sobre a suave pele branca de uma mulher, e na
constância da cascata, e no vazio dos desertos e pântanos,
e sobre grandes penhascos à beira-mar; e em muitos lugares
estranhos, onde os homens não me buscam. E muitas milhares de
vezes ele não me contemplou. E por fim Eu me lancei nele como
uma visão golpeada em uma pedra e quem Eu chamo deve seguir".
Como
deve, portanto, seguir Babalon aquele que sentiu o seu chamado,
vislumbrando algo de Sua beleza no Mundo? Muitos ordálios são
necessários, e a primeira prova que o iniciado encontra é
o Desespero. Na visão de ARN, Tífon, o Senhor da
Tempestade, induz Crowley ao desespero, mostrando-lhe como são
inúteis todas as formas de adoração que ele
conhecia:
"Desespero!
Desespero! Pois tu podes enganar a Virgem, e tu podes adular a Mãe;
mas o que dirás à antiga Prostituta que está
entronizada na Eternidade? Pois se ela não quiser, não
há nem força e nem astúcia, nem qualquer saber,
que possa prevalecer sobre ela.
Tu
não podes cortejá-la com amor, pois ela é amor.
E ela tem tudo, e não precisa de ti.
E
tu não podes cortejá-la com ouro, pois todos os reis e
capitães da terra, e todos os deuses do céu, derramaram
o seu ouro sobre ela. Assim ela tudo tem, e não precisa de ti.
E
tu não podes cortejá-la com sabedoria, pois o senhor
dela é Sabedoria. Ela tem tudo isto, e não precisa de
ti. Desespero! Desespero!
Nem
podes agarrar-te aos joelhos dela e pedir por piedade; nem podes te
agarrar ao coração dela e pedir por amor; nem podes
colocar teus braços ao redor do pescoço dela, e pedir
por entendimento; pois tu tens tudo isto, e nada disto te serve.
Desespero! Desespero!
Nem
podes vencê-la com a Espada, pois os olhos dela estão
fixos sobre os olhos Daquele em cujas mãos está o punho
da Espada. Desespero! Desespero!
Nem
podes vencê-la pela Serpente, pois foi a Serpente que primeiro
a seduziu! Desespero! Desespero!
Ao
Adepto Exempto, entretanto, Crowley entregou o texto sagrado Liber
Cheth Vel Vallum Abiegni como sendo a fórmula de Realização
da Grande Obra através da devoção a Nossa
Senhora Babalon. Segundo ele, o texto instrui o aspirante em como
dissolver a sua personalidade na Vida Universal:
"1.
Este é o segredo do Santo Graal, que é o sagrado vaso
de nossa senhora a Mulher Escarlate, Babalon a Mãe das
Abominações, a noiva do Chaos, que monta sobre nosso
Senhor a Besta.
2.
Tu deves derramar teu sangue que é tua vida na taça
dourada de sua fornicação
3.
Tu deves misturar tua vida com a vida universal. Tu não deves
reter uma gota".
Para
Crowley, a carta da Força do Tarot, que ele renomeou Lust
(luxúria, desejo, tesão), é uma representação
de Babalon cavalgando a Besta.
O
entendimento que Crowley atingiu em vida sobre o Mistério de
Babalon deve muito às suas experiências com o sistema
Enochiano. Curiosamente, apesar de todo o caráter religioso e
monoteísta que John Dee deu a esse sistema, a leitura de seus
diários revela que a entidade por trás das comunicações
era uma Deusa de características terríveis. O anjo
feminino Madimi, que Crowley reencontraria quatro séculos
depois em sua odisséia enochiana, referia-se a Ela apenas como
"minha Mãe". Kelley nunca conseguiu ver a divindade
no cristal, mas ouviu a sua voz. Quando ele perguntou o seu nome, ela
respondeu com ira: "EU SOU; que mais queres?", e afastou-se
como uma chama, enquanto Madimi se prostrava em temor e espanto. Em
outras ocasiões, a relutância de Dee em obedecer certas
imposições geravam terríveis ameaças, e
até uma troca de esposas foi ordenada aos dois para que o
trabalho mágico tivesse a continuidade desejada.
Dee
não tinha como conhecer na época a série de
textos gnósticos ainda enterrados em Nag Hammadi; caso
contrário, teria certamente relacionado a resposta da Deusa
dada diante da impertinência de Kelley a um texto chamado
"Trovão: Mente Perfeita", aparentemente uma fala da
Sophia gnóstica, que alguns chamavam de Barbelo:
"Eu
sou a honrada e a desprezada Eu sou a prostituta e a santa Eu sou a
esposa e a virgem Eu sou o silêncio que é
incompreensível e a idéia cuja lembrança é
freqüente. Eu sou força e medo Eu sou guerra e paz Eu sou
aquela que foi odiada em toda parte e que foi em toda parte amada Eu
sou aquela a quem chamam de Vida e vós me chamaste Morte. Eu
sou aquela a quem chamam de Lei e vós me chamastes Sem Lei."
Mais
tarde, ao investigar o sétimo Aethyr, Kelley teria recebido
uma mensagem que o aterrorizou a tal ponto, que seus experimentos com
Dee chegaram a um fim. Para nós, é inevitável
pensar na mensagem como sendo uma profecia daquela Deusa aos futuros
thelemitas:
"Eu
sou a filha da Fortaleza e violentada toda a hora de minha juventude.
Pois vejam, eu sou Entendimento, e a ciência reside em mim; e
os céus me oprimem. Eles me cobrem e desejam com infinito
apetite; pois nada que seja terreno me abraçou, pois sou
ensombrecida com o Círculo das Estrelas, e coberta com as
nuvens da manhã.(...) Eu sou deflorada, e ainda virgem; eu
santifico e não sou santificada.(...) Eu sou uma prostituta
para aquele que me violenta, e uma virgem para quem não me
conhece. Purguem suas ruas, Ò vós filhos dos homens, e
tornem suas moradas limpas; tornem-se santos, e vistam a retidão.
Joguem fora vossas velhas prostitutas e queimem suas roupas e então
eu trarei filhos a vós e eles serão os Filhos do
Conforto na Era que está por vir."
É
interessante notar a menção que o texto faz à
Fortaleza, uma vez que para Crowley a carta da Força do Tarot,
que ele renomeou Lust (luxúria, desejo, tesão), é
uma representação de Babalon cavalgando sobre a Besta.
A carta da Força corresponde ao Caminho entre Hesed e Gevurah,
origem das forças mágickas thelêmicas, e, segundo
seu O Livro de Toth, "esta carta retrata a vontade do Aeon".
A energia representada pela mulher embriagada com o sangue dos santos
seria de uma natureza primitiva e criativa, completa-mente
independente do criticismo da razão. "Existe nesta carta
uma divina embriaguez ou êxtase."
Dois
dos mais destacados magos enochianos de nosso tempo, os Schueler,
apresentaram em seu livro Enochian Yoga um Livro de Babalon que nada
deixa a desejar em comparação com as demais citações
feitas neste artigo, onde podemos perceber boa parte das idéias
abordadas até aqui:
"1.
Eu sou A Deusa. Eu sou espaço ao meio-dia. Eu sou as estrelas
que brilham a noite. Eu sou chamada o Útero do Bebê. A
Senda das Estrelas é o meu nome. Eu sou o Útero e eu
sou a Tumba.
A
energia representada pela mulher embriagada com o sangue dos santos
seria de uma natureza primitiva e criativa, completamente
independente do criticismo da razão.
3.
Meus três nomes são Beleza e Desejo e Magia. Tema-me no
meu nome Ela-que-é-a-beleza-da-noite. Venha a mim em meu nome
Ela-que-é-mais-desejada. Conheça-me em meu nome
Ela-que-domina-o-universo. Veja, eu sou a Virgem na manhã, a
Tentadora e Mãe ao meio-dia, e a Anciã na noite.
5.
Cuidado! Eu sou o Basilisco no topo de sua escada de cinco degraus.
Ver-me nua e só é contemplar sua própria morte."
Babalon
continua então sendo uma importante fonte de inspiração
para os magistas pós-Crowley. Um dos membros mais famosos da
O.T.O., ainda na época em que a Grande Besta caminhava sobre
este mundo, o cientista da NASA Jack Parsons, por exemplo, registrou
em seus diários uma série de operações
onde, segundo a sua compreensão, teria contatado a própria
Babalon, de quem teria recebido a incumbência de dar à
vida uma criança que seria uma encarnação desta
divindade, a qual também teria lhe ditado o Quarto Capítulo
do Livro da Lei, onde se lê:
"Sim,
sou Eu, BABALON.
E
este é o meu livro, que é o quarto capítulo do
Livro da Lei. Ele completando o Nome, pois eu venho de NUIT por
HORUS, a incestuosa irmã de RA-HOOR-KHUIT.
...Coloque
minha estrela em suas bandeiras e avancem em alegria e vitória.
Ninguém o negará, e ninguém ficará diante
de ti, por causa da Espada de meu Irmão. Invoque-me, chame-me,
chame-me em suas convocações e rituais, chame-me em
seus amores e batalhe em meu nome BABALON, onde todo poder é
dado!".
O
Quarto Capítulo de Parsons, embora não seja aceito como
uma genuína revelação thelêmica pela
O.T.O., sem dúvida conseguiu reproduzir algo da beleza do
original. É muito mais do que podemos dizer do monte de
tolices escritas com o vaidoso objetivo de completar aquilo que já
é perfeito. Existem tantas bobagens chamadas de Quarto
Capítulo quanto pseudo-encarnações de Crowley,
ao ponto de Umberto Eco ter satirizado o fato em sua obra O Pêndulo
de Foucalt.
O
Rito do Equinócio realizado por este Acampamento no dia 21
incluiu, portanto, uma invocação à Nossa Senhora
BABALON. Enquanto o coro dos Iniciados entoava o cântico "Aum.
Aum. Et incarnatus est de spiritu sancto ex Babalon omnibus mater et
homo factus est. Aum. Aum.", e a Sacerdotisa servia a todos o
Vinho no Cálice, o Hiereus invocou as energias do Aethyr ARN
através da recitação da seção Água
do Liber Samekh, cuja passagem "BABALON-BAL-BIN-ABAFT" foi
interpretada por Crowley como significando "Babalon! Tu Mulher
da Prostituição! Tu, Portal do Grande Deus ON! Tu
Senhora do Entendimento dos Caminhos!"; e da leitura da Chave
Enochiana dos Aethyres. Foram também invocados os Governantes
do Aethyr, DOAGNIS, PAKASNA E DIAIVOLA. Como a invocação
do Equinócio atraiu forças que atuarão durante
toda a estação sobre a Egrégora do Acampamento e
sobre os seus membros, é importante sabermos as funções
iniciáticas desses Governadores. Segundo o livro de Gerald e
Betty Schueler, Enochian Magic, as funções deles
seriam:
DIAIVOLA(O
deus onde está a vontade): ele inicia na realidade espiritual
e nas doutrinas da Tradição Esotérica, cujas
Raízes emanam do Mistério de Binah.
PAKASN(Ele
que não muda com o tempo): inicia todos os que entram em ARN
no significado do Amor e do Eterno Feminino.
DOAGNISEle
que vem sem um nome): inicia todos os que entram em ARN no
significado do Amor e sobre a ilusão dos nomes e títulos.
O
Governador DOAGNIS, então, tem para nós, neste momento
de estabelecimento da Lei de Thelema e da O.T.O. no Brasil, especial
importância. A nossa Grande Obra precisa de pessoas dedicadas e
cuja aspiração seja aprender, agora e sempre. Este
Governador pode nos ensinar a não cairmos nas falácias
que representam os títulos iniciáticos, muitas vezes
comprados via Internet com material roubado de outras ordens. Aquilo
que nós não queremos em nosso meio são
colecionadores de iniciações. Nós valorizamos,
sim, aquelas pessoas que vêm na Ordo Templi Orientis uma
oportunidade única de participarem de um real processo
iniciático verdadeiramente thelêmico, e que desejam
contribuir para o desenvolvimento das condições onde
este processo ocorre. Pessoas que queiram aprender conosco, lado a
lado, de igual para igual, pois o verdadeiro thelemita é o seu
próprio mestre, e não confia em cargos, títulos,
no tempo ou na idade, para buscar e realizar a sua Verdadeira
Vontade.
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